sábado, julho 30, 2005

Esguicho de ouro

O Besugo não quis ficar atrás da Lolita e resolveu cometer também a sua injustiça. Diz ele que não ganha, sequer, elogios. Ora, se bem me lembro, eu escrevi que a Lolita e o Besugo partilham um dos melhores blogues do burgo. Não tenho o hábito de tecer grandes elogios no blogue (coisas minhas), e poder-se-ia dizer que já não os sei fazer. Mas este parece-me muito claro. E conciso. Quanto muito, fui omisso em relação aos refractários que lá escrevem muito de vez em quando; esses, sim, com algumas razões para se sentirem melindrados. Agora o Besugo? Além disso, o Besugo sabe que nele não é a capacidade de síntese a mais apreciável. É a capacidade de meter a alma nos posts como, arrisco dizer, mais ninguém faz. Mas pronto, para quem não está a ver do que estou a falar, é passar pelo Blogame Mucho e ler o que por lá se escreve. Do melhor que há, repito. Do melhor que há.

sexta-feira, julho 29, 2005

Só há uma coisa pior que perder tempo numa fila duma qualquer repartição pública:

...ser obrigado a ouvir o cínico/moralista/pseudo-iluminado que não hesita em partilhar com o resto dos companheiros de infortúnio a sua opinião sobre a repartição, o ministério, o ministro, o governo, os políticos, a política, o país, o povo, os costumes, etc., etc., etc., etc., etc...

A reconstrução dos EUA (II)

Funcionários da Administração norte-americana e empresários dos EUA desviaram milhões de dólares angariados para a reconstrução do Iraque, revelou esta sexta-feira o Departamento de Justiça.

Porto sentido



Metade da minha família é do Porto. Desde cedo me habituei a lá ir com frequência. Um hábito que mantive, mesmo quando já não exclusivamente para reuniões familiares. Também desde cedo me habituei a ter de explicar, a quem pouco ou nada o conhecia, que o Porto não era uma cidade triste e feia. É uma cidade forte, altiva e com uma vitalidade que se nota no sotaque. E que não perde em beleza para nenhuma outra que conheça neste país, incluindo esta Lisboa onde vivo.

A imagem, se não me falha a memória, foi um dia surripiada ao Avenida dos Aliados. Um blogue onde a beleza do Porto está patente em cada post.

O Bolhão é de todos

Vi as imagens que a Lolita também viu. Mas na RTP e sem som, por falha técnica do canal. O som não era necessário, que quem gesticula assim faz-se entender bastante bem e o caso já tinha sido resumido pelo pivot de serviço.
A Lolita, que tem a admirável capacidade de condensar o seu bom senso quase sempre em poucos parágrafos, e que partilha com o Besugo, é preciso dizê-lo, um dos blogues mais bem escritos e pensados que por aqui há, cometeu agora uma injustiça. Quer ver as vendedeiras do Bolhão como património municipal, quando o mais correcto seria torná-las património nacional. Pois se alguém como eu, que escrevo de Lisboa, também pode atestar a sua genuinidade, fica demonstrado que a projecção do Bolhão ultrapassa bastante essas fronteiras imaginárias constituídas pelo Douro e pela Circunvalação. E mais adianto. Muita gente haverá por este país que não sabe sequer o que é o Bolhão, muito menos onde fica e quem o frequenta. Mas quantos desses conhecerão igualmente os outros patrimónios nacionais, desde os monumentais aos gastronómicos? Quantos conhecerão a beleza das margens do Douro, antes e depois da Régua, de que fala o Besugo de vez em quando?
Ainda assim, não sabendo sequer o que é o Bolhão, com toda a certeza, e em perfeita sintonia, também gesticulariam, até se tornar desnecessária a transmissão de som, sentindo certos calos apertados. Portanto, talvez as semelhanças suplantem as diferenças e reforcem o âmbito nacional desse património nascido e criado no belo Porto.

quarta-feira, julho 27, 2005

As críticas a Soares

Ou há qualquer coisa que me escapa nas objecções que se levantam à candidatura de Mário Soares ou, na verdade, não existe nenhum problema. Alegam que a idade de Soares é demasiado avançada. Será avançada. Estatisticamente, já há uns anos que nem por cá deveria continuar a andar. Mas vai andando, activo e lúcido. Quanto a isso ninguém quererá fazer vingar tese contrária. E se mantém a lucidez, não vejo como se possa dizer que a sua idade é demasiado avançada. Nem vejo como se possa estabelecer o que é uma idade demasiado avançada. Ou uma pessoa mantém as suas faculdades ou não. Ponto final. É verdade que na sua idade há maior probabilidade de ter problemas de saúde que o impossibilitem de desempenhar o cargo e que a CRP não prevê a destituição de funções por esse motivo. Mas a CRP, que é uma boa constituição, ao contrário do que muitas vezes se ouve, não se preocupou com a idade máxima dos presidentes por boas razões. Nomeadamente, porque, em última análise, ter esse factor em consideração lançar-nos-ia num trajecto semi-inquisitorial quanto aos comportamentos de risco dos candidatos. Se é lícito equacionar a idade, também é lícito equacionar o tabagismo, a alimentação, o comportamento sexual, etc., etc. Da mesma forma, se não faz sentido equacionar estes comportamentos, também não fará equacionar a idade como factor determinante do desempenho.

A outra objecção que levantam contra Soares é o facto de representar uma imagem do passado. Ora, com um pequeno esforço de memória recordamos que Soares saiu da vida política nacional precisamente ao mesmo tempo que Cavaco. Em rigor, até um pouco depois. Nenhum representa, nesse sentido, mais passado do que o outro. Aliás, em termos de actividade recente, menos relacionada com os interesses de uma eventual candidatura, Soares tem-se mostrado muito mais interventivo que Cavaco.

Neste esforço de querer dar por expirado o prazo de validade de Mário Soares, querem mesmo colar o espaço de acção do ex-presidente quase exclusivamente à revolução de Abril. Esta tentativa constitui uma dupla falácia. Nem o espaço de acção de Soares se esgotou na revolução ou nos seus episódios posteriores nem a sua actuação, nessas alturas, evidenciou qualquer extremismo político. De resto, qualquer simpatizante dos partidos à esquerda do PS não hesitará em tecer duras críticas a Soares e, até, em apelidá-lo de contra-revolucionário. O que sobressai das primeiras acusações é, mais uma vez, uma vontade mal disfarçada de querer dar por terminadas as conquistas políticas e sociais que a revolução trouxe. Pretende-se menosprezar o valor dos que, antes e depois de 1974, lutaram pela implantação da democracia, uma vez que esta não correspondeu, e provavelmente ainda não corresponde, aos seus anseios económicos ultra-liberais. Mas a realidade é bem diferente. As acções anti-fascistas que culminaram no 25 de Abril e na posterior instauração da democracia não se esgotaram nesses dias. Tudo o que agora somos a elas se deve. E, se alguma razão de queixa temos, é em relação aos tiques que nos sobraram de 48 anos de ditadura.

O último reparo que igualmente fazem a Soares é a sua provável actuação como Presidente. Imaginam-no demasiado interventivo, talvez mesmo um foco de instabilidade. É previsível que Soares não tenha muitas razões para os calculismos políticos que caracterizam a actuação de quem depende das reeleições. É sabido que possui ideias que o distanciam da corrente política de onde provém o governo de José Sócrates. Também é praticamente garantido que assumirá um papel mais activo que Sampaio. Mas daí a querer transformá-lo em foco de instabilidade vai um salto gigantesco. Muito mais distante esteve Soares dos governos de Cavaco, também com maioria absoluta, e não foi por isso que se registou qualquer instabilidade. Nem sequer se pode dizer que as relações institucionais tenham sido afectadas. Não se pode recusar a sapiência e o pragmatismo políticos que Soares possui, coisas que vêm com a experiência e com a argúcia. É difícil imaginar Soares a criar mais problemas a um governo PS do que a um governo PSD. Não é descabido que continue a operar nos bastidores políticos, como todos fazem, para defender os seus interesses, sobretudo dentro do PS. Contudo, não há que recear mais de Soares do que de qualquer outro político nestas condições, sob pena de se cair numa ingenuidade gritante.

Ao falarmos destas questões já nos estamos a aproximar de uma discussão política mais razoável. Deixamos o campo da geriatria amadora e da reacção contra Abril para passarmos a discutir princípios e expectativas de desempenho mais palpáveis. Quem não quer voltar a ver Mário Soares na presidência que critique o que há para criticar: que é muito de esquerda, que não é suficientemente de esquerda, que tem uma visão errada do direito internacional, etc. Criticá-lo porque tem mais de oitenta anos, lutou contra a ditadura e esteve ligado ao pós-25 de Abril, isso não.

terça-feira, julho 26, 2005

O sabor amargo dos regressos

A Comporta é uma aldeola alentejana no istmo da península de Tróia. Há uns anos atrás, tudo o que se podia encontrar na Comporta eram alguns restaurantes de beira de estrada, o posto da GNR, um balcão do BES e uma das melhores praias do litoral alentejano.
Hoje em dia, fruto dos empreendimentos turísticos e mais alguns condomínios, as diferenças são assinaláveis. O número de cafés e restaurantes cresceu, as ruas perderam a sua calma típica e, na praia, nasceram dois restaurantes dignos de telenovela, a tresandar a yuppismo bem instalado na vida. O areal está agora tão cheio de turistas que não se diferencia, nesse aspecto, de qualquer praia da Caparica.
Existe um paradoxo do turismo nos espaços rurais. O turista procura, por regra, um estereótipo do rural, enquanto os locais aspiram, ao nível das infra-estruturas, a parecer-se um pouco mais com o meio urbano. Coisas simples como comércio e serviços. Algo que não os obrigue a percorrer quilómetros em busca da localidade mais próxima que se assemelhe vagamente a uma cidade.
Nesta medida, de turista para turista só varia o preconceito em relação ao que é o rural. Daqui resulta que o que o turista procura não se coaduna com a estratégia de desenvolvimento do espaço visitado. O que tem como consequência que os regressos, com o passar dos anos, mais cedo ou mais tarde, se tornem menos agradáveis. O desencanto com o destino escolhido acaba por ser uma fatalidade.

segunda-feira, julho 25, 2005

Confusões

A candidatura de Soares, a concretizar-se, não nasce da vontade popular. Nem a de Cavaco. Nem a de ninguém. As candidaturas nascem do concurso de disponibilidades pessoais e conveniências partidárias. Querer ver nestas ou noutras candidaturas um retrato do país é tirar conclusões precipitadas. Quanto muito, pode concluir-se alguma coisa sobre a vitalidade partidária. Um momento muito mais acertado para tirar conclusões sobre o país será, então, a noite das eleições.

Das palavras aos actos

As análises que se vão fazendo à candidatura de Mário Soares acabam por focar, inevitavelmente, a sua idade. Por vezes de forma meramente passageira, por vezes com o intuito de estabelecer um prazo de validade ideológico, quando não físico. Fica patente que o preconceito em relação à idade ensombra ainda muitas mentes. Provavelmente, muitas das quais não hesitam em manifestar a sua repulsa pela situação de exclusão social para a qual a terceira idade vai sendo paulatinamente atirada nesta sociedade. E assim se demonstra que as boas intenções convivem amenamente com as más práticas.

Auto-retratos



Edvard Munch, Auto-retrato com garrafa de vinho, 1906

sexta-feira, julho 22, 2005

Está mesmo a ver-se que sim

– A culpa do preço das casas é dos compradores. – disse o mediador imobiliário.

Números

Pedidos de falência sobem 700%


Lucros do BPI aumentam 22%

quinta-feira, julho 21, 2005

A iliteracia explicada devagarinho (ou um insuportável paternalismo)

Na caixa de e-mail:

"Isto é um Aviso de Visualização para a mensagem que enviou.

Nota: Este Aviso assegura apenas que a mensagem foi
aberta na máquina do destinatário. Não garante que o seu
conteúdo tenha sido lido ou entendido."

Crises

Antigamente era a pasta da Educação que queimava ministros. Agora é a pasta das finanças. Cada tempo tem a sua crise. Como seria melhor se deixássemos umas antes de entrar nas outras, em vez de acumular como temos vindo a fazer.

Um dia

Um dia destes gostava de ver o Paulo Gorjão a rebater a esquerda do PS pelos princípios enunciados e não pelas menores hipóteses de ganhar eleições. Assim como quem discute o que é melhor para o país e não o que é melhor para o PS.

Um candidato à esquerda

Manuel Alegre é, ou pode ser, parte interessada nas eleições presidenciais. As suas opiniões devem ser, por isso, avaliadas tendo esse factor em consideração. No entanto, não é parte menos interessada que Freitas do Amaral. As críticas que o ex-candidato a líder do PS faz às movimentações do Ministro dos Negócios Estrangeiros não são, nesse sentido, menos legítimas que as críticas lançadas por Freitas do Amaral a Cavaco Silva.
Num aspecto Freitas do Amaral não deixa de ter razão: quanto mais tempo passa sem uma decisão do PS, mais espaço de manobra se deixa à candidatura da direita. É conveniente que o PS acorde para as presidenciais antes que se gere na opinião pública um sentimento de inevitabilidade orientado para Cavaco. Mas que Freitas não é um hipotético candidato que agrade amplamente à esquerda, isso não é.

Os fins e os meios

Convenci-me, ao escrevê-lo, que o meu post sobre a utilidade da compreensão do outro era carapuça para alguma gente de direita, daquela que não me dá troco, e que, por isso, estaria condenado a não ter eco. Estava eu nisto quando percebi que o João Tunes, pelo menos em parte, se tinha candidatado a enfiá-la.

Não sei se por questões de estilo, julgo que o João e eu, volta e meia, nos desentendemos. Umas vezes assumimo-lo, outras calamo-lo. Não serão desentendimentos graves, no sentido de nos chegarmos a afrontar. São antes leituras diferentes do que escrevemos. Talvez, pois então, o problema do estilo. Suponho que já não é necessário revalidar os votos de estima mútua que nutrimos. Ambos o sabemos já há muito tempo. Arrisco falar pelos dois ao dizer que não somos pessoas às quais as divergências provoquem alergias. Cada um acredita naquilo em que acredita, argumenta, contra-argumenta e aprende o que tiver para aprender. Muito me apraz saber que o que aqui vou escrevendo encontra utilidade aos olhos de alguém. Mais agradado me sinto ao saber-me apreciado e reconhecido por pessoas com a experiência e a sagacidade do João Tunes. Não é necessário reafirmá-lo, pois, como disse, já ambos o sabemos. Quanto muito, servem estas linhas apenas para deixar claras as coisas para que quem por aqui passe também o saiba e não leia nas nossas divergências mais do que elas são.

Embora o João Tunes não seja dos que vêem as coisas assim, há muito quem queira puxar do gatilho a torto e a direito, julgando com isso resolver o que quer que seja. Era mais para esses que eu me dirigia. Relembro a fractura determinada pela administração Bush: “ou connosco ou contra nós”. Não posso aceitar que se veja a realidade assim. Se não passa pela cabeça de nenhuma pessoa bem intencionada trazer o terrorismo para o lado do bem (terminologia bushiana novamente), não é tolerável que se queira meter no mesmo saco do terrorismo todas as expressões que não se revêem nas respostas delineadas em Washington. É uma afirmação que tem tanto de falso como de ofensivo. Faz lembrar outra falácia que por cá se divulgou querendo fazer-nos a todos responsáveis pelo drama que se viveu durante anos na Casa Pia. Ora, eu não sou terrorista nem pedófilo e não aceito que me queiram associar a qualquer uma dessas actividades nem que me queiram responsabilizar por coisas sobre as quais não tenho qualquer responsabilidade. Não o aceito porque não admito que me queiram manchar o nome, que, embora desconhecido, merece respeito. Nem o aceito porque a estratégia de pedir responsabilidades a todos impede que se apurem os verdadeiros responsáveis. Não contem comigo para isso.

Se bem depreendo, as nossas divergências prendem-se com uma questão de prioridades. Eu digo "entender para melhor combater" e o João diz "combater melhor, entendendo-o". Não sei se é assim tão diferente. Limito-me a reafirmar que se não se souber quem se combate e quais as suas razões, dificilmente o poderemos vencer. Falhar a compreensão do inimigo é uma péssima estratégia para a batalha. Que o digam, por exemplo, Portugal em África e os EUA no Vietname e no Iraque.

Não se pode negar a racionalidade da acção a uma pessoa só porque o seu comportamento nos avilta. Assumir que o inimigo tem razões e estratégias para as implementar é o primeiro passo para saber como combatê-las. Afinal, se enfiar a cabeça na areia não é solução para nada, disparar em todas as direcções à espera de acertar também não resolve o assunto. Pelo contrário, pode revelar-se mesmo muito perigoso.

Ninguém quer promover líderes terroristas ao estatuto de líderes democraticamente eleitos. Pelo menos, eu não quero. Mas tenho muitas reservas com a utilização de uma palavra tão forte como “aniquilar”. Não duvido que as operações militares ou policiais possam ter objectivos não declarados de extermínio de pessoas. Não sou tão ingénuo a esse ponto. Sei que, tendo a oportunidade, os contendores arrumam com o adversário. Estaria a ser muito hipócrita se dissesse que não acharia o mundo um lugar mais aprazível sem Bin Laden e os seus acólitos. Mas continuo a acreditar que o sistema de justiça da modernidade ocidental representa um valor inestimável para a definição do nosso modelo civilizacional. Não se coaduna com desrespeitos pelos direitos humanos, liberdades e garantias. No dia em que concedermos nesses campos estaremos a perder a batalha. Não se combate o fascismo com mais fascismo. Não se combate o totalitarismo com mais totalitarismo. Não se combate o autoritarismo com mais autoritarismo. A resposta a todas estas formas de abuso continua a passar pelo reforço da democracia, pela afirmação inequívoca do nosso estilo de vida.

Mesmo perante os mais fortes indícios de crime, qualquer pessoa tem o direito a um julgamento justo. Os acusados de terrorismo não escapam a esta regra. Mesmo que andem a propagandear os seus feitos na internet ou em cassetes de video. Têm todos o direito a ser julgados. Aliás, temos todos o direito de os ver julgados. A aniquilação, tal como é praticada, por exemplo, pelo governo e pelas forças armadas israelitas, não é admissível nem se enquadra naquilo que queremos defender. Apresenta ainda um problema adicional. Aproxima-se perigosamente da arbitrariedade e nesta cabe sempre mais um. Primeiro vão os suspeitos de terrorismo, depois poderá vir mais alguém. Sem acusação formal, sem julgamento, sem condenação. Já sabemos onde estas coisas vão parar (o João sabe-o melhor que eu). Não precisamos de as reeditar para saber as consequências nefastas que acarretam. Não podemos assistir serenamente enquanto se vai cedendo os flancos da liberdade e dos direitos que tanto nos custaram a ganhar a troco não se sabe bem do quê. Os fins não justificam os meios, mesmo os que nos pareçam mais desejáveis, como o combate ao terrorismo.

Now you see it... now you don't. (II)

Voltou. Vá-se lá entender isto.

Now you see it... now you don't.

Desapareceu toda a coluna de links. É a primeira vez que isto me acontece, mas sei que já aconteceu o mesmo a outros blogues. Com os meus elevados conhecimentos disto, prefiro aguardar que decida regressar, da mesma forma que decidiu partir para parte incerta. Entretanto, se houver explicações ou sugestões para o fenómeno, são muito bem vindas.

quarta-feira, julho 20, 2005

Al

Amaral, principal, presidencial, actual...

Fiem-se na virgem e não corram (II)

Para exemplificar o que escrevi no post anterior, leiam este post do Irreflexões, na Torre de Babel. Uma escolha entre Freitas do Amaral e Cavaco Silva afasta eleitores assumidamente de esquerda mas que, se não estou em erro, nem sequer se identificam necessariamente com a ala mais à esquerda do PS.

Fiem-se na virgem e não corram

Agora que já foi publicada na íntegra a entrevista de Freitas do Amaral, o tema principal de debate passou a ser a eleição presidencial. O actual Ministro dos Negócios Estrangeiros pode ter aspirações legítimas a ocupar o cargo, concorrendo apoiado pelo PS. Há até quem pense que seria melhor candidato do que, por exemplo, Manuel Alegre. O que não se entende é como é que convencer o eleitorado que se identifica com a ala direita do PS a votar Manuel Alegre é mais difícil do que convencer o eleitorado que se identifica com a ala esquerda a votar Freitas do Amaral. Quantos destes se levantariam de ânimo leve no dia das eleições tendo como candidatos Freitas e Cavaco?

terça-feira, julho 19, 2005

A gratidão é muito bonita

O nome de Karl Rove tem dominado as buscas na internet nos últimos dias. As razões são simples e estão explicadas nesta curta notícia do DN. Resta dizer que Rove foi considerado o principal estratega por trás da reeleição do presidente americano. O que permite compreender também as reticências de Bush em deixá-lo cair.

A utilidade de compreender

Tzvetan Todorov foi um dos autores que se dedicou a reflectir sobre o contacto entre culturas. Nomeadamente, com o objectivo de encontrar uma via entre a xenofobia e a xenofilia. Argumenta então Todorov que a compreensão das outras culturas é vantajosa não só na medida em que nos fornece um quadro mais fiel do outro, mas sobretudo porque nos possibilita um olhar mais agudo sobre a nossa própria realidade. Perceber o outro é também uma forma de aprender sobre nós mesmos. Esta perspectiva revela-se muito pertinente quando se sabe que os atentados de Londres não foram levados a cabo por imigrantes.
Não é necessário legitimar uma boa argumentação indo buscar nomes consagrados que partilham ou partilharam a mesma ideia. Por essa blogosfera tem havido uma profusão de textos muito bons sobre a necessidade de entender o fenómeno das formas actuais de terrorismo para melhor o combater. Mas, ainda assim, com a igual quantidade de opositores a esta concepção, não é demais relembrar um autor que se dedicou, com lucidez, a esta temática. Até porque há quem confunda a compreensão com a aceitação ou a capitulação. A compreensão do outro não inviabiliza o juízo moral sobre os seus valores, tal como não pressupõe uma assimilação cega nem uma recusa obstinada dos seus modelos culturais. Permite, isso sim, uma visão crítica mais informada da realidade. Quem não perceber isto só vai acertar nas medidas mais correctas para combater o terrorismo como quem acerta no Totoloto: por mero acaso.

A reconstrução dos EUA

A pretexto da reconstrução do Iraque, está a decorrer mais uma cimeira de países doadores. Com a transparência que se reconhece nos concursos no Iraque, já se sabe onde vai para a maior parte do dinheiro doado por estes países.

segunda-feira, julho 18, 2005

A2

Nos cento e tal quilómetros que separam a entrada de Ourique na A2 da bifurcação para as pontes de Lisboa, fazendo a viagem sem exceder os regulamentados 120 km/h, só foi possível ultrapassar dez viaturas. Quatro das quais nos primeiros cem quilómetros. Os limites são sempre uma abstracção.

Perguntas

Não são os blogues senão auto-retratos?

Auto-retratos



Parmigianino, Self-portrait in a Convex Mirror, ca. 1523-24

sexta-feira, julho 08, 2005

Vacaciones

O Viva Espanha faz, a partir de hoje, um pequeno descanso. O regresso fica prometido para dia 18 de Julho, com mais um auto-retrato, desta vez especialmente escolhido para o Evaristo.

O essencial

No meio da consternação e da revolta provocada pelos atentados, um sinal de esperança emerge das palavras de Tony Blair. Sem condescender na determinação de trazer os responsáveis à justiça, Blair não teve receio de revalidar inequivocamente a afirmação do nosso estilo de vida, dos nossos valores, das nossas liberdades.
Os discursos do primeiro-ministro inglês marcam um ponto fundamental na luta contra o terror. Nunca será demais repetir as premissas essenciais que regulam as nossas sociedades. São, simultaneamente, a nossa maior bandeira e a garantia de vitória.

quinta-feira, julho 07, 2005

7 de Julho

Mais uma data de má memória.

Complicações

Somos demasiadas vezes confrontados com referências à correspondência em escudos para determinado valor em euros. Desde que abandonámos a antiga moeda que há quem não se consiga libertar dessa comparação. Aliás, esta chega mesmo a ser um dos fenómenos mais irritantes em diversos meios de comunicação social.
Foi compreensível alguma tolerância verificada na fase inicial de adaptação ao euro. Mas, tanto tempo depois, começa a ser absurdo insistir nestas comparações. De resto, se dentro de certos limites as comparações ainda se podiam entender, por outro lado, para valores muito altos, como, por exemplo, os investimentos anunciados recentemente por José Sócrates, o raciocínio deixa de fazer sentido. Num país em que o salário médio é pouco mais que miserável, quantas pessoas saberão realmente o potencial de 25 mil milhões de euros, mesmo que traduzidos para o seu equivalente em escudos?
O que é certo é que ainda há muita gente que não se sente confortável com o euro. E, entre eles, aparentemente, muitos profissionais de comunicação. Também existe a possibilidade desta atitude ficar a dever-se a um paternalismo grosseiro. Em qualquer dos casos, não se lhes exige que deixem de fazer contas, se isso lhes dá jeito. Em privado e a lápis, para poderem emendar, não vão enganar-se na tabuada do dois. Escusam é de nos massacrar todos os dias, extrapolando o seu desconforto para o resto da população. Mantendo este constante vai-vem de uma moeda para outra, não só não se habituarão ao euro como tornarão a vida mais complicada para toda a gente.

Resolução

Daqui para a frente, guardar os melhores textos do maradona, para não voltar a ser surpreendido.

quarta-feira, julho 06, 2005

Tendencioso

Já me disseram que sou tendencioso quando falo do PSD. Julgo que não. Por exemplo, não tenho qualquer problema em estar de acordo com o PSD quando eles criticam o aumento do IVA que o governo PS recentemente levou a cabo. Aliás, estou tão de acordo com eles que já estava contra o aumento do IVA quando foi o governo PSD a tomar essa decisão.

Tubarão branco



As white sharks apparently interact socially by low-intensity biting and grabbing, at least some oral contact with humans and other animals that are not regular prey may have a social framework, with sharks behaving with humans as they would with other sharks. Humans in such interactions may not understand what the shark's body language (including displays such as gaping and hunching) may signify (if they notice them at all) and what responses are appropriate to the context, until the shark proceeds further in the interaction and grabs the person. Work in progress off South Africa suggests that white sharks as individuals and groups confronted by free-swimming skin and SCUBA divers are usually not aggressive even when baits and chum-trails are present but may investigate the divers quite closely without showing any signs of perturbed, agonistic behavior.

terça-feira, julho 05, 2005

Moço de recados

Tenho vindo a ganhar uma antipatia crescente pelo segundo mandato de Jorge Sampaio. Nomeadamente, desde o convite endereçado a Santana Lopes para formar governo. Na altura teria sido preferível legitimar um novo governo com a convocação de eleições antecipadas. Era este o meu entendimento. Outras leituras eram possíveis, e Sampaio foi um dos que entendeu ler a conjuntura de forma diferente. Tinha toda a legitimidade para o fazer, assim como é legítimo que quem atribui uma importância fundamental ao episódio já não deposite qualquer confiança política em Jorge Sampaio.
Os silêncios do Presidente da República perante os dislates de Alberto João Jardim não são de agora. Mas quando o presidente do governo regional da Madeira vem insultar todo o sistema político da nação, quando vem insultar grupos inteiros de pessoas ao sabor da sua xenofobia, quando vem desrespeitar alarvemente as leis do país, o que se pedia ao Presidente da República era mais do que um recado. Pedia-se uma intervenção séria, inequívoca e directa ao cerne da questão. Pedia-se que Sampaio defendesse a honra das instituições deste país, do qual é o mais alto representante, que defendesse a dignidade dos seus habitantes, independentemente da sua origem geográfica, tal como estipula a CRP. No fundo, não se pedia de Jorge Sampaio nada que não fosse o pleno exercício das suas funções. Neste caso não havia margem para interpretações políticas. Tudo o que ficasse aquém de uma intervenção neste sentido pecaria por defeito. Não foi esta a leitura do PR. Mais uma vez, saiu recado. Pífio.

segunda-feira, julho 04, 2005

Desesperados anónimos

Boa tarde, o meu nome é Miguel Silva e estou viciado na série Desperate Housewives.

Auto-retratos


Albrecht Durer, Self portrait at 28, 1500

sexta-feira, julho 01, 2005

Tour de France

Começa amanhã mais uma edição da Volta à França. Quando comecei a trabalhar, perder as transmissões em directo das etapas revelou-se um abalo difícil de recuperar e só muito levemente compensado pelos sites que actualizam regularmente a situação da corrida. O Tour, para além de um grande prazer, constitui um dos mais fortes indutores de melancolia que tenho. O momento ideal para recordar o dolce fare niente vespertino.


Este ano, Lance Armstrong vai estar a lutar por uma inédita sétima vitória consecutiva, o meu irmão vai estar, mais uma vez, a torcer desesperadamente por uma vitória de Jan Ulrich e eu, sem surpresa, vou estar a torcer por qualquer resultado que beneficie os corredores e as equipas espanholas.

A pena de morte

À semelhança do que se passa com o debate sobre o aborto, um outro tema onde se ouve com frequência uma má argumentação a favor de uma boa causa é a pena de morte. Um dos argumentos mais comuns entre os que se assumem contra a pena de morte é a associação entre a falibilidade da justiça e a irreversibilidade da sentença. Do ponto de vista prático, é um argumento inabalável. Não só se sabe que o erro é inerente à humanidade como, uma vez consumada a sentença, obviamente, torna-se impossível corrigi-la. Pode discutir-se, por exemplo, de que forma se consegue reaver os anos passados em clausura, mas é igualmente evidente que para a pena de morte não se encontra qualquer solução restitutiva, por mais insatisfatória que seja.
No entanto, este raciocínio não recusa a pena de morte em si. Pelo contrário, implicitamente, admite a justiça da sua aplicação. O argumento da irreversibilidade das consequências em caso de erro somente coloca em causa a exequibilidade de sistemas criminais e judiciais perfeitos. Caso fosse possível conceber tais sistemas, o argumento para a recusa da aplicação da pena de morte deixaria de ter peso. Na improvável hipótese de alguma vez ser possível erradicar a dúvida da acção humana, uma argumentação nesta linha não se mostraria capaz de rebater convenientemente a pena de morte.
A argumentação para recusar a pena de morte tem de partir de uma questão de princípios. A pena de morte deve ser renegada pela sua essência. Sobretudo, porque representa uma sentença desumana que não se adequa aos princípios orientadores de uma sociedade moderna de tradição democrática nem se coaduna com o respeito pelos direitos humanos. Recusar a inclusão desta sentença no sistema judicial é assumir conscientemente que o Estado, enquanto representante da sociedade, não sanciona o homicídio e esta é a melhor garantia de autoridade moral para o poder continuar a punir.

Do sobreiro ao hospital

"Aqui a saúde tem futuro". Esta é a frase que ocupa a gigantesca tela promocional ao Novo Hospital da Luz, junto ao CC Colombo, unidade de iniciativa privada e ainda em fase de construção.
A frase é elucidativa. A saúde, a outra saúde – depreende-se que seja a pública –, não tem futuro. Assina o Grupo Espírito Santo. Fica a impressão de que eles sabem do que estão a falar.