Acendam uma velinha ao santo
Jorge Sampaio vai dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas.
...ou outra coisa qualquer. Postagem de Miguel Silva Mails para: correio_para_espanha@yahoo.es
Jorge Sampaio vai dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas.
As opiniões dividem-se entre os que defendem que o Presidente deve convocar eleições quanto antes e os que acreditam na fórmula pedagógica de deixar a coligação cumprir o seu mandato integralmente. Pelo meio sempre vai havendo quem argumente que Jorge Sampaio aguarda o momento mais adequado para retirar o suporte a Santana Lopes e a Paulo Portas, momento esse que ocorrerá quando o PS atingir o seu momento mais forte como alternativa.
Henrique Chaves demitiu-se na sequência da remodelação governamental. Está tudo dito. Se ainda fossem precisos exemplos da forma de actuação que Santana Lopes imprime no seu consulado, este seria o caso perfeito. Não há como argumentar que a principal fonte de instabilidade não é o primeiro-ministro. Se noutros casos se inferia a responsabilidade de Santana Lopes, neste está absolutamente explícita a sua interferência e a relação directa com as consequências conhecidas.
"Ó brasuca! Não há picante?", pergunta o distinto cavalheiro da mesa ao lado à empregada brasileira.
Tenho dúvidas sobre a utilidade do Túnel do Marquês para o trânsito lisboeta. Tenho dúvidas que seja um investimento prioritário, útil e seguro. Mas eu não percebo nada de engenharia civil nem de estudos de impacto ambiental e por isso não posso falar muito.
O nome deste blogue não tem mesmo nada a ver com Espanha. Tem sobretudo a ver com este país. E eu estou um bocado farto dele.
Hoje não me apetecia ter um blogue chamado Viva Espanha. Apetecia-me antes ter um blogue que copiasse descaradamente o nome de um bom livro. Algo que não recorresse a trocadilhos ou a pequenas provocações. Por exemplo, ter um blogue chamado A Insustentável do Ser e publicar exclusivamente textos sobre o amor, ou até sobre sexo, e sobre como podem ser tão iguais e tão diferentes. Ou um blogue chamado Cem Anos de Solidão e escrever sobre a melancolia dos dias frios de Inverno. Ou ter um blogue chamado O Retrato de Dorian Gray e discutir as implicações da beleza na moral humana.
Parece incrível mas há cargos políticos com este nome.
Só há uma forma de entender esta semana. O Altíssimo decidiu contrabalançar a alegria de celebrar os aniversários das pessoas que amo com doses reforçadas de labuta profissional e horas intermináveis de reuniões estéreis, o que me impediu de escrever em tempo oportuno sobre tantas coisas que me parecem importantes que me sinto mesmo muito aborrecido com isso. E agora parece-me mal amalgamar tudo num post, coisa que já se presta tão pouco a reflexões extensas, quanto mais a súmulas das preocupações semanais.
Foi assim que ouvi caracterizar a pergunta do referendo e é difícil encontrar melhor palavra para o fazer. Tal como está formulada, a pergunta é deliberadamente confusa e tendenciosa. Enquanto não tivermos outra (se viermos a ter outra), que se comece a discutir as questões essenciais do futuro da UE o mais brevemente possível. Até porque esta pergunta, com todos os seus defeitos, não deixa de ser um bom ponto de partida.
A desfaçatez com que o governo se descarta das conclusões da AACS é simplesmente assustadora. Mostra que para este executivo o respeito, a honra e a vergonha não parecem ocupar lugar de relevo no exercício de funções. Mostra que esta gente está disposta a passar por cima de muita coisa, incluindo a perversão dos princípios da democracia, para se manter em funções.
As conclusões da AACS apontam claramente para pressões ilegítimas e ameaças à independência dos órgãos de comunicação social. Não é nada que já não tenha sido comentado na altura devida em inúmeros locais. Mas com a comunicação destes resultados torna-se politicamente insustentável manter Rui Gomes da Silva e Nuno Morais Sarmento no governo. São assim as regras da responsabilidade política. O que não quer dizer, claro, que eles venham a demitir-se ou a ser demitidos. São assim as regras do compadrio e da bebedeira do poder.
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras está em vias de ver posto em causa o seu regular funcionamento. A renovação de contrato com pessoal administrativo está a ser adiada por falta de despacho do Ministério da Administração Interna e as consequências podem levar ao encerramento de alguns departamentos ou, em alternativa, à recolocação de "agentes de rua" em tarefas administrativas.
Instado a comentar as conclusões da AACS, Paulo Portas afirmou "Estou num dos dias mais gratificantes da minha vida como ministro da Defesa, quero lá saber dessas coisas". É justo. Eu quando estou num dos dias mais gratificantes da minha vida como cidadão anónimo também não quero saber Paulo Portas para nada. Nos restantes vou oscilando entre a vergonha e indignação.
Miguel Coelho, presidente da concelhia de Lisboa do PS, em declarações ao Público sobre as premissas de uma futura coligação para as autárquicas na capital, refere que "a haver coligação, ela será de certeza com o Bloco, cujo eleitorado é muito mais dinâmico do que o do PCP".
No dia em que fumei o meu último cigarro prometi a mim mesmo que não me tornaria num desses ex-fumadores ferozmente anti-tabagistas. Ainda não cheguei lá, mas sinto que me afasto cada vez mais da minha promessa. Muito resumidamente, é bastante ingrato ver os esforços e eventuais benefícios desta opção postos em causa com o fumo passivo. Por vezes, torna-se mesmo exasperante.
Autoridades alemãs planeiam construir prisão adaptada para idosos
Onde é que estavam estes parques infantis quando eu tinha idade e tamanho para usufruir deles?
Se bem compreendo, ao estilo do que Avelino Ferreira Torres andou a fazer em Marco de Canavezes, o novo hino do PSD alude ao nome do actual líder. Imagino que haja sociais-democratas muito envergonhados com aquilo em que o partido se está a transformar.
"Alguns comentadores de direita têm insistido em ver no desfecho das eleições americanas uma batalha por valores que a esquerda perdeu - o que lhes serve de argumento para exclamar, cheios de "gozo", que os valores da "velha esquerda" estão mortos e, enquanto não forem revistos, só a conduzirão às derrotas, hoje nos Estados Unidos, amanhã na Europa. Têm razão na análise, mas a lição que pretendem extrair é simplesmente amoral. Houve, de facto, uma batalha por valores nestas eleições americanas, e os valores emergentes da nova direita derrotaram os valores da velha esquerda. Mas ainda bem que houve essa batalha, que a esquerda preferiu o risco da separação das águas do que a tentação de se adaptar aos ventos hoje dominantes. Ainda bem que houve essa clarificação, mesmo que ela tenha deixado a América profundamente dividida ao meio, em termos que preocupam até os próprios vencedores. Mil vezes perder uma eleição do que perder a razão."
Um texto na Aba de Heisenberg sobre um dos temas mais interessantes que se apresentam para reflectir o cruzamento do social com o biológico. São experiências como estas que ajudam a desmontar os mitos dos “dons naturais” de certas pessoas. A personalidade/identidade do indivíduo é muito mais complexa do que as interpretações naturalistas, psicologistas e sociologistas podem fazer crer.
Pacheco Pereira explora no Público as transformações sociais introduzidas pela generalização do uso do telemóvel na nossa sociedade. Na análise de JPP destacam-se duas consequências relevantes. Nomeadamente, a introdução de uma nova dimensão de má educação, associada à incomunicabilidade, e a limitação à privacidade que decorre desta impossibilidade social de permanecer incontactável.
Temos que admitir que este país tem uma questão cultural com as sinalizações. A sinalização, quando existe, é muitas vezes confusa, incompleta ou enganadora, tornando-se assim inútil. Estas situações são tão comuns que temos que nos interrogar se constituem um mera negligência ou se já fazem parte de uma certa forma de agir. Ou seja, se em vez de estarmos a falar de um descuido, de uma alteração ao que deveria ser o padrão, não estaremos já perante uma forma de funcionamento sistemática, estruturada, que se constitui como característica dominante e não como desvio.
Continuo a surpreender-me com a facilidade com que vinga o argumento da “naturalidade” nas relações conjugais. Foi, mais uma vez, o caso do artigo do Prof. Mário Pinto nesta segunda-feira. Entre outras ideias, defende o Prof. Mário Pinto que “deve ainda hoje valer, no novo contexto da cultura e da civilização actuais”, um sentido essencial de protecção da maternidade associado ao matrimónio. Desta forma, o casamento tem uma função “natural” procriadora, obviamente inacessível aos homossexuais, pelo que a equiparação dos casamentos homo e heterossexuais revelaria uma clara assimetria, já que só os segundos podem resultar em procriação. Mais ainda, Mário Pinto afirma que “se a sociedade se organizasse agora na base do casamento homossexual, só duraria a presente geração”.
Calvin: Hobbes, achas que a nossa moralidade é definida pelos nossos actos, ou por aquilo que nos vai no coração?
Mas as baixas são inevitáveis. Alguns fuzileiros ocuparam por isso o tempo a escrever cartas "para o caso de" - missivas de agradecimento, elogio e despedida dirigidas aos entes queridos; às vezes as cartas ficam com amigos, outras são metidas no blusão.
Sobre este rectângulo de terra à beira-mar, já Eça de Queiroz disse tudo o que havia para dizer. O que, para além de fazer de Eça um escritor singularmente perspicaz, prova que a mentalidade reinante não se alterou muito desde o século XIX.
Estado deixa prescrever processos de dívida
Este blogue é publicado a partir de uma cidade em que o presidente da Câmara se chama Carmona Rodrigues, de um país em que o primeiro-ministro se chama Santana Lopes e o Presidente que o escolheu se chama Jorge Sampaio, de uma União Europeia em que o Presidente se chama Durão Barroso e de um mundo em que o homem mais poderoso se chama George Bush. Para onde é que se pode fugir?
Uma jovem foi absolvida, ontem, do crime de aborto em mais um julgamento decorrente da actual lei. O que mais choca neste caso nem é o enquadramento legal que continua a suportar estes julgamentos, mas sim a forma como o caso chegou a tribunal. Tanto a Ordem dos Enfermeiros como a Ordem dos Médicos estão a apurar a responsabilidade de dois profissionais supostamente envolvidos na denúncia do caso às autoridades, algo que viola claramente os códigos deontológicos e o sigilo profissional a que estão obrigados. Como se já não nos bastasse uma lei totalmente desajustada, agora temos de nos preocupar com as delações pseudo-moralistas de pessoas em quem devíamos ter confiança.