quinta-feira, março 31, 2005

O que se conclui dos números (ou não...)

Em rigor, dos números não se conclui nada. Os números interpretam-se e das interpretações é que se pode concluir alguma coisa.

P.S.: Post publicado sem recorrer à sensata verificação de quantas vezes, neste blogue, se "concluiu" alguma coisa dos números.

Luz a mais

Falta de luz - 1
Falta de luz - 2

Para mim, não parece faltar luz nenhuma. Parece tudo, até, bastante claro.

Os receios de Guterres

A eventual candidatura de António Guterres para Alto Comissário das Nações Unidas pode ter duas leituras. Ou o ex-primeiro-ministro procura, com estas notícias, obter um trunfo mediático e reforçar, junto da opinião pública nacional, a sua algo abalada credibilidade, ou abandonou definitivamente as pretensões políticas de ser o próximo Presidente da República. As duas hipóteses partilham, porém, um aspecto em comum. Guterres mostra que tem medo de perder as eleições.

Inversão de prioridades

Um homem mata outro à facada; e anda tudo a discutir se deve ser salvaguardado por lei o direito de propriedade sobre objectos virtuais.

Adenda (ou referência a um amigo, ou qualquer coisa): [em branco a pedido do próprio]

Incompatibilidade

À hora dos noticiários da noite, cansado de rever as peças da SIC na RTP e as da RTP na SIC (o zapping tem destes inconvenientes), dei por mim a acompanhar duas ou três notícias seguidas na TVI. A dada altura, Manuela Moura Guedes iniciou a introdução da reportagem seguinte sensivelmente nestes termos: "E o Papa lá se vai aguentando vivo". Nesse momento fica perfeitamente claro que está na hora de mudar novamente de canal e recordamos a razão pela qual os noticiários da TVI são incompatíveis com o período das refeições. É mesmo muito difícil tolerar o enjoo.

terça-feira, março 29, 2005

Um fim para o desporto

Há já uns dias, responsáveis do Manchester United reclamaram um novo modelo de organização da Liga dos Campeões. Em causa estava arquitectar um modelo que assegurasse a passagem aos quartos-de-final das maiores equipas europeias. Esta semana foi a vez de Bernie Ecclestone, responsável máximo pela Fórmula 1, se manifestar sobre os resultados mais desejáveis no respectivo campeonato. Não passa pela cabeça de ninguém que o responsável máximo por uma modalidade desportiva venha a público tomar partido por alguns dos competidores em detrimento de outros. Bem entendido, o que move Ecclestone não é exactamente a maior ou menor afeição por uma ou outra equipa. O que o move, tal como ao Man. Utd., é o interesse financeiro.
Não se pode ter a ingenuidade de considerar que o plano financeiro não adquiriu uma importância primordial em muitas modalidades desportivas, das quais as duas referidas são dos melhores exemplos que se pode referir. Contudo, uma coisa é constatar esta realidade, que já vinga em pleno há alguns anos, e outra é ouvir o desassombro com que é publicamente reconhecida a subalternização do plano desportivo. Declarações como as de Ecclestone, ou dos responsáveis do Man. Utd., revelam um despudor inaudito. A actividade desportiva, o desporto e o desportivismo são relegados para segundo plano como conceitos vãos e já nem sequer existe a preocupação de acautelar as aparências. No fundo, o que choca já nem é a importância dos cifrões, mas sim que os agentes envolvidos na subversão das modalidades desportivas já se sintam suficientemente confortáveis e confiantes para defender os seus interesses abertamente. O que é muito mau sinal.

Apetite por destruição

Voltou a acontecer. Os especialistas já se desdobraram a explicar que o equilíbrio de tensões nas placas tectónicas é frágil e que não se pode garantir que após uma catástrofe não se verifique outra em relativo curto espaço de tempo. Não conforta, mas é a explicação que existe.
Percebeu-se que alguma comunicação social salivou com o alerta. Devem ter-se imaginado a captar a desgraça que se adivinhava em directo. Ainda não foi desta. Mesmo assim, isso não impediu alguns canais de televisão de recuperar as gravações de Dezembro. Se não há tragédia, revive-se o que de mais parecido ou mais recente se encontrar.
O contexto é essencial para o conteúdo da comunicação. Esta só se torna inteligível e tolerável por referência ao contexto adequado. Num contexto em que já se afastavam os cenários mais pessimistas, a recuperação das imagens e da sua violência constitui, ela mesma, uma outra forma de violência. Um aproveitamento obsceno da emotividade potencial da desgraça alheia. Sem suporte justificativo, não passou de violência gratuita contra o espectador.

segunda-feira, março 28, 2005

Ponto de partida

O caso de Terri Schiavo é particularmente complexo. Nomeadamente, porque a sua situação clínica parece muito ambígua. Discute-se desde a correcta natureza e irreversibilidade do seu estado até ao facto de o tubo que a alimenta ser uma forma de tratamento ou um suporte básico de vida.
O marido de Terri afirma que ela não quereria viver assim. Os pais, por seu lado, têm lutado para que a sua filha seja mantida viva. O caso tem percorrido os tribunais norte-americanos e até George Bush já tentou intervir. Neste momento, está a ser aplicada a última decisão judicial que ordena que se suspenda a alimentação a Terri, o que conduzirá, obviamente, à sua morte. Os recursos entretanto apresentados pelos pais não têm recebido acolhimento nos tribunais. Pelo meio, é preciso dizê-lo, surge um seguro de vida milionário que faz levantar ainda mais incertezas. Nada parece ser evidente, neste caso.
Independentemente do que se venha a concluir sobre o caso clínico de Terri ou sobre o que move os seus familiares, há um aspecto fundamental que não se encontra assegurado: ninguém conhece a verdadeira opinião de Terri. Aquela expressa pelas suas palavras e não pelo que alguém diz que ela eventualmente quereria, aquela que deveria contar acima de todas as outras.
Tudo o que se sabe é o que o seu marido afirma. Não é suficiente. Nesta matéria tudo o que seja menos que a vontade expressa do próprio corre o risco de se transformar num erro tenebroso. Numa matéria tão delicada, a vontade manifesta de morrer é o ponto de partida para que se comece a discutir o assunto em todas as suas outras implicações. De outra forma, não se vislumbra com que autoridade podem outras pessoas decidir sobre a morte de alguém.

Sobre o caso Terri Schiavo ler o post Grelos e Nabiças, no Blogame Mucho.

quinta-feira, março 24, 2005

Eli, Eli, lama asabthani?*

Juntamente com a agonia no Jardim das Oliveiras, do ponto de vista pessoal da minha não-religiosidade, este é o momento mais tocante da personagem histórica que foi Jesus Cristo. O medo e a dúvida como partes integrantes da essência do ser humano.

* Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?

Boas leituras

Ainda - no Machamba

A História e a Páscoa - na Rua da Judiaria

Páscoa (4)



Francis Bacon, Três Estudos para uma Crucificação, 1962

Páscoa (3)



Marc Chagall, Crucificação Branca, 1938

Páscoa (2)



El Greco, Cristo na Cruz Adorado por Dois Benfeitores, ca. 1585-90

Páscoa (1)



Andrea Mantegna, O Calvário, ca. 1456-60

terça-feira, março 22, 2005

O amigo americano

É de supor que as vozes que se levantaram contra a nomeação de Freitas do Amaral para Ministro dos Negócios Estrangeiros só por distracção não tenham entoado um coro de indignações sobre a nomeação de John Bolton para embaixador dos EUA na ONU. Afinal, Bolton andou a dizer da ONU o que Freitas nunca chegou a dizer dos EUA.
Momentos altos:
"as Nações Unidas não existem"
"se o edifício do Secretariado da ONU perdesse dez andares, não faria diferença nenhuma"
"qualquer reforma devia ser no sentido de considerar apenas um membro permanente: os EUA"
"é um grande erro para a América reconhecer a validade da legislação internacional"

segunda-feira, março 21, 2005

As cores da criminalidade

O pior que podia acontecer era que o problema da criminalidade se viesse a transformar numa questão étnica. Já aqui escrevi que não há qualquer interesse em revelar nomes, e muito menos fisionomias, de suspeitos, arguidos ou condenados. A menos que o nome e a circunstância se revelem manifestamente de interesse público. O que, geralmente, não costuma ser o caso.
Percebem-se as lógicas que estão por trás de divulgações deste género, mas estas não deixam de ser inaceitáveis. Fazer demagogia com a segurança das pessoas é fácil. É fácil porque mexe com sentimentos muito fortes em cada um. É normal que a criminalidade gere um instinto de justiça. De uma forma geral, qualquer sociedade quer ver a criminalidade reduzida à expressão mínima, da mesma forma que pretende ver os prevaricadores castigados e as situações reparadas, na medida do possível. Um dos castigos é a desacreditação social dos infractores. E funciona bastante bem, o que se pode comprovar pela marginalização que acompanha o percurso social de uma boa parte dos ex-condenados. Para algumas pessoas, no entanto, isso parece não ser suficiente. É preciso, também, atribuir uma cara e um nome ao mal.
Esta noção de justiça já pouco tem a ver com o sistema retributivo que supostamente está generalizado nas sociedades modernas ocidentais. O que essa concepção releva é a imposição de uma perspectiva quase puramente punitiva. A situação ficará reparada com o castigo do infractor, com o seu sofrimento, tal como este fez sofrer aqueles que prejudicou.
Por várias razões, o ser humano revela grande facilidade na construção mental de grandes grupos. Desde logo, por economia de esforço, para facilitar o relacionamento social. Desta forma, uma pessoa apenas precisa de aprender a relacionar-se com grupos de pessoas. Estereotipando não há necessidade de processar informação personalizada sobre todos os indivíduos com quem se entra em interacção. Se, por um lado, isto facilita o relacionamento no quotidiano, por outro, distorce significativamente a percepção do outro. A divulgação de dados referentes à nacionalidade ou à etnia dos suspeitos, por tudo isto, não só não se recomenda como deve ser alvo de forte crítica. Em rigor, a cor da pele ou o local de nascimento das pessoas não determina a sua tendência para o crime. No fundo, possui tanta relevância como a análise da cor do cabelo ou da cor dos olhos. O que existe são condições sociais que potenciam trajectos de vida ligados à marginalidade e à criminalidade.
O facto de ser relativamente fácil identificar determinados grupos que vivem nestes contextos sociais merece atenção e preocupação, mas por outras razões bem diferentes. A marginalização e exclusão social de grupos sociais é que merecia ser a notícia associada aos casos mais recentes de violência contra as forças policiais. Mas isso daria muito mais trabalho.

Efabulação

Imagine que detinha interesses financeiros ligados à extracção de petróleo, que a sua família também detinha interesses na extracção do petróleo e que alguns dos seus amigos e maiores apoiantes também detinham interesses ligados à extracção e comércio de petróleo. Imagine que alcançava uma posição política tão influente que lhe conferia a possibilidade de desencadear conflitos internacionais e de alterar profundamente a conjuntura económica mundial. Imagine que, dois anos depois de desencadear um conflito internacional, o preço do petróleo aumentava para o dobro. Imagine que a situação criada era tão confusa e volátil que já ninguém parecia preocupado ou empenhado em dar relevo aos lucros que o negócio da sua família e dos seus amigos estava a gerar. Ou, melhor ainda, que não só não se falava nisso como ainda se conseguia centrar as atenções sobre os aumentos no crescimento económico de outro país. Parece demasiado fantasioso, não parece?

Conexão

Tu gostas dos dias assim. Eu gosto quando tu gostas.

Esclarecimento

O Inverno foi na semana passada. Esta semana começa a Primavera.

sexta-feira, março 18, 2005

Jogo de espelhos

O grande paradoxo de Pacheco Pereira, como político, opinion maker, articulista e comentador, é que ele escreve sobre os políticos, sobre os opinion makers, sobre os articulistas e sobre os comentadores como se não fosse, ele mesmo, político, opinion maker, articulista e comentador. Como se não fosse actor principal nas encenações que tanto critica.

Fim-de-semana



Joseph Mallord William Turner, Colour Beginning, 1819

quinta-feira, março 17, 2005

Os "Donos" da Bola

Um amigo chamou-me a atenção para o Futeblog Total, blogue pós-modernista sobre futebol. O blogue, que eu desconhecia, merece uma leitura atenta. A título de exemplo, nos posts mais recentes é analisado o contributo do desconstrutivista Luís Campos para o futebol nacional e é defendida a tese de que o referido treinador conseguiu despromover, na mesma época, não duas, mas sim três equipas. Vale mesmo a pena.
Mas a cereja em cima do bolo é uma compilação de carismáticos jogadores dos três grandes do futebol nacional que, incompreensivelmente, não chegaram a afirmar-se. Não resisto a reproduzir:

Benfica - Dudic, El Hadrioui, Marcos Alemão, Jamir, Amaral (Extremo), Nelo, Tavares, Pedro Henriques, Mario Stanic, Bermudez, Gary Charles, Steve Harkness, Jorge Soares, M. Hughes, Mostovoi, Marinho, João Manuel Pinto, George Jardel, Zé Roberto, Paulão (Def. Central), Paulão (Extremo), Clóvis, Donizete, Paulo Nunes, Paulo Pereira, Paredão, Marcelo e Hassan, Bossio, Okunowo, Tahar, King, Escalona, M. Thomas, Carlitos, Uribe, Washington Rodriguez, Pringle e Akwá.

Sporting – Lemajic, Guentchev, Paulo Torres, Capucho, Filipe, Silas, Leal, Paulo Alves, Afonso Martins, Didier Lang, Dominguez, Bino, Pedro Martins, Nalitzis, Skhuravy, Pavel Horvath, Rob Spehar, Afonso Martins, Marcos, Saber (não ocupa lugar), Vinícius, Robaina, Ayew, Hanuch, Viveros, Kirovsky, Krpan, Heintze, Costinha, Gil Baiano, Hugo, Carlos Jorge, Balajic, Frank Rijkaard, Giménez, Careca, Carlos Miguel, Kmet, Ouattara e J.J. Missé-Missé.

Porto – Ericsson, Wozniak, Candido, Jorge Silva, Chippo, Esnaider, Neves, Pedro Henriques, António Sousa, Kenedy, Cândido Costa, Costa, Russell Latapy, Lula, João Manuel Pinto, Esquerdinha, Chainho, Jorge Couto, Barroso, Paulinho César, Rubens Júnior, Mielkarski, Rossato, Folha, Peter Lipcsei, Mitharsky, Raudnei, Clayton, Kralj, Buturovic, Alejandro Diaz, N’Kongolo, Vlk, Wetl, N’Tsunda, Mogrovejo, Walter Paz, Baroni e Mandla Zwane.


Hoje é de rebolar a rir, mas na altura não tinha piada nenhuma.
Permito-me ainda recordar quatro nomes que foram injustamente esquecidos na lista benfiquista. São eles os incontornáveis Ronaldo, Paulo Madeira, Andrade e o polivalente Rojas (o tronco dos troncos), que, como se recordarão, jogava mal em todas as posições. A linha defensiva perfeita...

A Matrix é já amanhã

Chegaram as baby-sitters robots com funções multimédia
Empresa japonesa apresentou ontem colecção de robots de companhia que lêem, dançam e vigiam crianças em grupo


Entre as funcionalidades do robô da NEC contam-se sensores que lhe permitem reconhecer obstáculos, capacidade de comunicar oralmente com os humanos, reconhecimento das caras da família a que pertence, arregalar os olhos a certos estímulos, distinguir cores, dançar, ler caracteres manuscritos, um dicionário com 650 palavras (embora consiga pronunciar mais de 3000), receber ordens dadas por voz ou por gestos, ligar a televisão e mudar de canal e ainda contar crianças em grupo e entretê-las com jogos de reflexão.

Programas que avaliam o sucesso das músicas... Robôs que tomam conta de crianças...

A Matrix já esteve mais longe. Será que o HAL 9000, quer dizer, o Lutz também leu isto?

Representatividade no debate político

Uma esquerda, habituada ao controlo estatal, com uma velha tradição de interferência nos órgãos de comunicação públicos – e não só, veja-se o à-vontade como discute de forma quase normativa e regulamentadora as decisões editoriais privadas, pretendendo impor regras de representação parlamentar à Quadratura do Círculo... – pensa que quer, pode e manda.
(...) O problema é aquilo que nunca é enunciado e é sempre ocultado, e que, mais do que qualquer coisa, preocupa os novos detentores do poder: as audiências, a popularidade, a influência.


O que Pacheco Pereira se esquece de esclarecer, no seu artigo de opinião, é que um dos problemas também passa pelo que é enunciado como real mas que não corresponde inteiramente à realidade. No caso específico da Quadratura do Círculo, sobre o qual penso que nenhum elemento do PS, enquanto tal, se pronunciou, há uma inversão de análise. As críticas ao modelo da Quadratura do Círculo – que é o sucedâneo do Flashback da TSF – só começaram depois de ficar claro que o critério editorial da escolha dos comentadores era partidário. Se a escolha dos comentadores obedece a critérios partidários, então é claro como água que na Quadratura do Círculo existe um défice de representatividade.
Convém frisar que o que está em causa é a representatividade e não a proporcionalidade. Não se pede que os programas de debate político reformulem o seu corpo de comentadores em função dos resultados eleitorais. Pede-se, e é o mínimo que se pode pedir, que funcionem como espaços de reflexão plurais. Isto se se verificar, repito, que o critério de escolha dos comentadores é partidário, como é o caso. O que se deve estranhar não são as críticas que agora surgem. O que é realmente estranho é o facto de só agora terem surgido.

quarta-feira, março 16, 2005

Tirania da beleza

Na semana passada, um tema passou relativamente despercebido. A directora da rede para a Ciência e Tecnologia de África e das Caraíbas, Elizabeth Rasekoala, defendeu que devem ser os investigadores mais atraentes a falar com os média. Rasekoala chegou mesmo a afirmar: "basta de mulheres de bigode".
Não está em questão a necessidade que existe de tornar os discursos da Ciência mais inteligíveis, evidentemente sem comprometer o rigor. A democratização do discurso científico é um objectivo que não pode ser esquecido, sobretudo num mundo globalizado. A Ciência e o seu corpo de conhecimentos deve ser facilmente acessível a todos e não se pode contestar um maior esforço de divulgação, até junto de públicos tradicionalmente menos receptivos.
Contudo, o que transforma esta pequena notícia num fenómeno interessante é o desassombro com que é assumida a apologia da beleza física. Sem entrar na difícil questão do que é a beleza, é interessante constatar até onde está difundida esta cultura de verdadeira idolatria.
A beleza, hoje em dia, não é só beleza. É também sucesso e, muitas vezes, dinheiro. Ser bom, simplesmente, parece não chegar. Por outro lado, ser bonito sugere quase automaticamente uma associação com o sucesso. Esta conexão está disseminada um pouco por todo o lado. É sobretudo mais visível na televisão, no cinema e na publicidade, meios de simulação e manipulação por excelência. Meios particularmente bem colocados para filtrar, criar e difundir modelos.
As palavras de Rasekoala constituem uma cedência à muito moderna feira mediática e à dominação do fenómeno da imagem. Algo que se enquadra muito bem nas tendências actuais, mas que causa perplexidade vindo de quem tem tamanhas responsabilidades.

terça-feira, março 15, 2005

Pedro "Variações" Lopes

Porque eu só estou bem aonde não estou
Porque eu só quero ir aonde não vou
Porque eu só estou bem aonde não estou
Porque eu só quero ir aonde não vou

segunda-feira, março 14, 2005

Brincamos

A irresponsabilidade não conhece limites.

Rua da Amargura

O candidato credível à liderança do PSD é uma pessoa cuja relevância política, há uns anos, no Contra Informação, deu origem a um boneco minúsculo, popularizado pela expressão "g’anda nóia". O outro é Luís Filipe Menezes.

Ironias

O tempo, definitivamente, melhorou. Os dias estão mais quentes e até as noites estão mais amenas. A chuva ainda não apareceu em força. Não faz vento e, a espaços, brilha um Sol acolhedor. Alguém me explica como é que me constipei?

O Homem, a máquina e a arte

Pode uma máquina produzir uma obra de arte? Foi esta a pergunta que me ocorreu a propósito do post Admirável Mundo Novo. E depois da troca de ideias com o Lutz, que ele publicou no seu blogue, surgiram ainda mais questões. Não sei muito bem como dar-lhes resposta, mas não se perde muito por tentar.

É possível imaginar, e um dia será realidade, uma máquina capaz de raciocinar, aprender e adaptar-se ao meio ambiente. Se admitirmos que o raciocínio é a capacidade de elaborar pensamentos que adaptem meios a fins, as três características referidas são comuns a muitas espécies animais à face da terra. A particularidade do ser humano está no facto de, a determinada altura do seu processo evolutivo, ter desenvolvido uma capacidade comunicacional altamente complexa, baseada em simbolismos e abstracções. É esta capacidade que define o ser humano enquanto espécie e enquanto ser individual. Portanto, uma máquina que replicasse a capacidade de pensamento lógico, aprendizagem e adaptação do Homem, aliada a uma capacidade comunicacional altamente elaborada, estaria muito perto de redefinir a nossa visão do mundo, na medida em que a hegemonia humana nesses campos estaria posta em causa.

Mas subsiste uma diferença de extrema importância entre Homem e inteligência artificial. Embora seja possível conceber uma máquina que replique e ultrapasse as capacidades lógicas e abstractas do Homem, é mais difícil supor que se consiga dotar uma máquina de capacidade emocional, ou de um sistema que a recrie. A emoção é fundamental para a formação da pessoa. Sem emoções não pode haver sentimentos. E sem estes é toda a capacidade de acção sobre a realidade que fica afectada.

Imaginando uma máquina que, após uma programação inicial, seja capaz de agir e interagir de forma autónoma, não se configura possível, para já (e enfatizo este para já), que tal aparelho seja capaz de se emocionar. Dessa forma, sem acesso directo à emoção, também não é de supor que seja capaz de gerá-la em terceiros. Pelo menos, não da mesma forma que o Homem é capaz de fazê-lo.



Ora, a arte, sendo uma forma de expressão, tendo uma componente simbólica e tendo uma audiência, é uma forma comunicacional. É uma forma comunicacional, sobretudo, na medida em que é dotada de sentido. O artista confere um sentido à sua acção. Marcel Duchamp, por exemplo, com os seus ready-made, chegou a demonstrar que a intervenção do artista podia ser reduzida a um mínimo e limitar-se a seleccionar objectos já fabricados. Ou seja, a chave não reside no objecto em si nem na acção transformadora sobre o material, mas sim no sentido que lhe é atribuído. O artista, para Duchamp, passa a ter por missão a busca da liberdade.

Poderá uma máquina programada atingir a liberdade criativa? Poderá uma máquina atribuir sentido a um objecto? Mais ainda, é plausível que uma máquina sem capacidade emocional se "interesse" e "compreenda" a elaboração de uma obra de arte? As respostas a estas perguntas, tal como as suas implicações, ainda são do foro da ficção científica. Contudo, e com toda a certeza, a construção de uma máquina que faça com que todas as respostas a estas perguntas sejam "sim" colocará em causa muito mais do que as noções de arte e de artista.

sexta-feira, março 11, 2005

Isso dos votos é perfeitamente secundário

Perante o jornalista, Nuno da Câmara Pereira, membro de um partido monárquico sem representação na AR, recentemente eleito pelas listas da peregrina coligação PSD-PPM-MPT, afirmou que já devia ter chegado ao Parlamento há muito tempo. God save the king.

Igualdade de oportunidades

A substituição, no Quadratura do Círculo, de José Magalhães (que vai para o Governo) por Jorge Coelho mostra que se trata explicitamente de uma representação partidária. Volto portanto à minha pergunta de há meses: por que é que nesse programa a direita tem dois representantes e a esquerda somente um?

Esta pergunta de Vital Moreira, no Causa Nossa, merece, efectivamente, ser respondida. Será que alguém se vai dar ao trabalho de justificar as escolhas?

Onzes

Muitos prestarão, hoje, a justa homenagem às vítimas do 11 de Março. Também haverá os que recordarão, e bem, a luta contra o terrorismo e a necessidade de apresentar à justiça todos os responsáveis.
Neste dia, sem esquecer a dor e o sofrimento provocados, é também importante recordar o outro lado da face humana. Recordar, por exemplo, que em frente à estação de Atocha, do outro lado da rua, fica o Rainha Sofia. E que um pouco mais adiante podemos encontrar o Thyssen e o Prado. Dentro deles, Picasso, Dali, Miró, Goya e Gris. Mas também, entre tantos outros, Rafael, El Greco, Van Gogh, Monet, Degas, Kandinsky, Rothko. Exemplos da insuperável transcendência do Homem na busca da beleza e do inexplicável. Exemplos que, espera-se, ajudem a encontrar a força necessária para enfrentar os dias mais difíceis sem perder a esperança no amanhã.

quinta-feira, março 10, 2005

Estranhos delírios

Seguindo um link do Causa Nossa, chega-se a um texto de opinião, de difícil caracterização, publicado no DN (o DN parece apostado em dar guarida nas suas páginas às mais febris argumentações publicadas na imprensa nacional). Afirma o colunista, entre outros disparates de igual calibre, que o que se passou nas eleições legislativas do ano passado em Espanha não passou de um "golpe de Estado mediático" (o delírio chega ao ponto de afirmar o mesmo sobre as legislativas nacionais do mês passado).
O golpe mediático, a ter lugar, conheceu a sua origem no interior do governo de Aznar. Na realidade, a cobertura noticiosa dada em Portugal ao 11 de Março foi muito mais exaustiva e isenta do que a cobertura da comunicação social espanhola, fortemente manipulada pelo governo. Foi o desmascarar da urdidura montada pelo PP espanhol que originou a sua justa derrota nas eleições que se sucederam. Não foi o desemprego, não foi a cimeira das Lages, não foi o Iraque, nem foram os atentados de Atocha e Alcalá de Henares. Foi a mentira como argumento político. Foi a constatação de que os governantes não dignificavam nem mereciam o lugar que ocupavam.
O que os espanhóis fizeram nessas eleições foi uma grande lição de maturidade democrática. É pena que continue a haver quem não só se recuse a aceitá-lo, como insista na deturpação da verdade.

Admirável Mundo Novo

Programa informático avalia se uma canção pode ou não transformar-se num êxito

Próximas novidades:

programa informático avalia se vale a pena ler um livro
programa informático avalia se vale a pena visitar museus
programa informático avalia se vale a pena ver um filme

Filosofia de vida

Eu queria poder pensar demorando-me.

Manuel Castells

Vale a pena ler na íntegra a entrevista do Público a Manuel Castells (I, II, III).

quarta-feira, março 09, 2005

Uma brincadeira muito séria

O episódio do envio da fotografia de Freitas do Amaral para a sede do PS foi, por muitos, comparado aos métodos estalinistas. Há semelhanças, é verdade. Mas a comparação corre o risco de perder poder analítico por facilmente se converter numa caricatura. Comparações desta natureza correm sempre esse risco. Não só existe uma certa dose de banalização dos acontecimentos mais marcantes – neste caso o regime de Estaline – como também se verifica que, pela diferença de magnitude dos acontecimentos, a própria comparação é levada menos a sério.
Os regimes mais célebres por recorrerem à manipulação da História e à propaganda – o comunismo e o fascismo – fizeram-no com objectivos bem definidos. Em causa estava um branqueamento e uma purificação do passado. Sobretudo, para além de uma visão do mundo que interessava difundir, tornavam-se necessárias formas complementares de legitimação desses regimes.
O que se passou agora dentro do PP é parecido, mas não se baseia nos mesmos pressupostos. Desde logo, o comportamento da direcção do PP parece estar mais ligado a uma vingançazinha, própria de quem está ressabiado, do que a um imperativo ideológico que é preciso manter impoluto. A democracia cristã que Portas professa não é tão ideologicamente apurada que possa ser equiparada ao comunismo ou ao fascismo. Estes, nas suas necessidades de legitimação, reprimiam as ameaças à integridade dos seus programas (muito embora a violência do fascismo fosse, ela própria, legitimadora da ideologia, senão mesmo um fim ideológico). A manipulação histórica que levaram a cabo, feita de forma mais ou menos encapotada, teve como objectivos a desacreditação dos adversários e o reforço da superioridade do ideal professado.
As diferenças começam precisamente aqui. Não só não existe uma desacreditação de Freitas do Amaral, nem um reforço dos ideais da democracia cristã, como o PP não teve pejo em anunciar publicamente que retirava a fotografia das suas paredes. Como manipulação é fraco, tendo implicações possivelmente a médio prazo, quando as personalidades políticas de todos os envolvidos pertencerem de tal forma ao passado que a memória não as alcance facilmente. Contudo, esta “garotice”, tal como foi apelidada, denota uma capacidade de mexer na História que não deve ser menosprezada, tanto mais que já existem antecedentes. Para quem tomou a decisão, a História não merece respeito. Pode-se bulir com ela, mesmo que seja para satisfazer caprichos pessoais mal disfarçados de brincadeiras de criança.
De certa maneira, as manipulações do comunismo e do fascismo obedeciam a uma lógica identificável, o que facilita a reposição da verdade. As atitudes aparentemente irreflectidas ou imaturas dos dirigentes do PP estão mais perto dos estados de humor individuais. Admitindo que passam despercebidas, podem ser muito mais difíceis de identificar e rectificar, na medida em que não dependem, necessariamente, de uma lógica coerente.
A amplitude das manipulações dos regimes referidos é incomensuravelmente superior a este mau ensaio do PP. No entanto, este último não deixa de ser um indicador perigoso. Mais ainda, e assumindo o que esta afirmação tem de especulativo, quando sabemos que foram pessoas ligadas ao PP e à actual liderança que tutelaram áreas tão sensíveis como a Justiça ou os Serviços de Informação da Defesa nos últimos anos. Evidentemente, uma coisa não implica forçosamente a outra. Mas é mais do que suficiente para assustar.

Frescas

As obras de Munch roubadas no domingo já foram recuperadas. Continuam desaparecidos O Grito e Madona.

terça-feira, março 08, 2005

Eu também quero um Edvard Munch nas paredes lá de casa

Quase sete meses depois de duas obras de Edvard Munch, O Grito e Madona, terem sido roubadas do Museu Munch, em Oslo, duas litografias do pintor norueguês e uma aguarela desapareceram no domingo de um hotel, perto de Moss, cidade do Sul da Noruega.

O vosso dia



Dia da Mulher. De todas, entende-se. Mas cada um celebra as suas. Eu tenho duas. Talvez um dia sejam três. Um felizardo mal agradecido, é o que eu sou.

segunda-feira, março 07, 2005

F $

Os responsáveis pela Fórmula 1 estão de parabéns. Depois de anos de tentativas frustradas, finalmente parecem ter encontrado uma combinação que pode impedir mais eficazmente a Ferrari de ganhar. A F1, em nome das audiências e dos financiamentos, afasta-se cada vez mais de qualquer coisa que se assemelhe a um desporto.

Revisionismo fotográfico

O CDS-PP está transformado num partido de pessoas zangadas com a história. Para quem alguma vez tenha tido dúvidas, foi gente deste calibre que governou o país nos últimos anos.

sexta-feira, março 04, 2005

Uns políticos exemplares

Santana não vai para São Bento e pode regressar à Câmara de Lisboa dia 14

PSD/Oeiras escolhe Isaltino Morais para a Câmara

quarta-feira, março 02, 2005

O crescimento do BE e as estratégias do PS (II)

No post anterior ficou por analisar a estratégia ideológica de governação do PS.
Deve o PS direccionar-se mais para o centro ou mais para a esquerda?
Trata-se, obviamente, de uma questão ideológica, mas tentemos ver a coisa pelo aspecto prático, ou seja, do ponto de vista dos interesses eleitorais do PS.
O PS dispõe, nesta legislatura, de condições objectivas para orientar a sua governação conforme lhe aprouver. Pode procurar consensos ou entendimentos pontuais, mas não está preso a eles para aprovações no hemiciclo. Pode e deve, por isso, implementar as reformas que julgar necessárias. Nem outra coisa dele se espera nestes quatro anos que se avizinham.
Determinados sectores do PS têm reclamado uma governação de esquerda, usando como argumentos o facto de ser necessário segurar este eleitorado, assim como a necessidade de conter o ameaçador crescimento do BE. Não sendo de crer que o BE tenha muito mais por onde crescer, não deixa de ser relevante, no entanto, verificar a implantação dos partidos nos respectivos eleitorados.
As transferências de votos ao centro, entre PS e PSD, não são, obviamente, de desprezar. Mas, tal como refere André Freire num estudo publicado em 2001 sobre movimentos eleitorais, as transferências de votos dentro dos blocos ideológicos parecem ser muito mais relevantes para a definição dos resultados eleitorais. Com efeito, o BE tem vindo a ganhar peso em áreas que tradicionalmente favorecem a votação no PS, como os meios urbanos. Analisando os resultados nas eleições legislativas, Freire conclui que as clivagens tradicionais (urbano-rural, capital-trabalho, centro-periferia, religiosidade-secularização) detêm maior relevância para a compreensão do sentido de voto do que, por exemplo, a conjuntura económica ou as taxas de desemprego. Ou seja, a teoria do eleitor racional, nas eleições legislativas nacionais, não tem tanta aplicação como a das clivagens sociais.
Desta forma, faz todo o sentido que o PS não seja atraído pelo mito do peso fundamental do centro. O PS é, porventura, o partido que regista uma distribuição geográfica de apoio eleitoral mais equilibrada. Mas o apelo que exerce faz-se notar mais vincadamente nos meios sociologicamente conotados com a esquerda. É nesses meios que o PS fortalece os seus resultados eleitorais. Ignorá-lo acarretará custos mais altos do que uma suposta alienação do centro. É a esquerda que vota e dá vitórias ao PS. Faz todo o sentido que seja para a esquerda que o PS governe nos próximos anos. Se assim não for, haverá actuais eleitores do PS que votarão mais à esquerda (e neste caso o BE teria mais a lucrar que o PCP), haverá actuais eleitores do PS que se refugiarão na abstenção e, eventualmente, haverá até eleitores que, para ter um governo de direita, pensarão que mais vale votar PSD. Neste caso, não será somente a renovação da maioria absoluta que estará em causa, será a renovação da vitória eleitoral. O PS terá desperdiçado a oportunidade que as eleições de 2005 lhe deram.

O crescimento do BE e as estratégias do PS

A ala esquerda do PS, como o Paulo Gorjão fez notar, veio defender um posicionamento da governação do PS direccionado para o eleitorado de esquerda. Inerente a esta proposta está a perspectiva de crescimento eleitoral do BE. Há aqui duas questões a merecer atenção: o crescimento eleitoral do BE e a estratégia de governação PS. Para já, analisemos o primeiro.
Sobre o crescimento eleitoral do BE, tenho sérias dúvidas que o seu potencial não esteja já muito próximo do esgotamento. O Bloco tem tido um crescimento fundamentado no facto de ser um partido anti-sistema. Muito claramente, não é plausível que quase sete por cento dos portugueses simpatizem com o trotskismo ou com as outras correntes de extrema-esquerda que integram o Bloco. A vantagem do BE passa, então, pela sua retórica, pelo seu talento para aproveitar as oportunidades mediáticas e pelo facto de não fazer parte do sistema.
O BE é uma organização em crescimento, que se aproxima a partir de fora, não tendo os vícios dos partidos mais antigos. Uma parte do encanto do BE reside precisamente aí: o BE não tem passado executivo (o ideológico será outro assunto). Não tendo sido posto à prova, nunca falhou.
O recente resultado do BE nas legislativas catapulta-o para uma condição de representação na AR que não é nada negligenciável. O BE passou a ser um partido que pouco se diferencia dos restantes. Só muito dificilmente – na prática é impossível – o BE não terá de actualizar as suas estruturas organizativas. O primeiro indício foi dado com o possível fim da rotatividade dos deputados. Ou seja, a luta pelo poder interno no BE vai agora fazer-se sentir com muito mais força. O que terá como consequência quase imediata que o BE passe a ser visto como uma organização partidária semelhante às restantes.
Por outro lado, muito embora a maioria absoluta do PS não o obrigue a entendimentos no Parlamento, aproximam-se eleições autárquicas nas quais o BE quererá ter uma palavra a dizer. A implantação eleitoral do BE nos meios urbanos não é desconhecida do PS e já há sinais de possíveis entendimentos, nomeadamente em Lisboa. Este factor, que torna o BE muito mais apetecível para o carreirismo partidário, não só contribuirá para a luta interna no BE, como também para uma alteração significativa na forma como o BE é percepcionado pelos eleitores.
O problema do BE, como o de todos os partidos que crescem baseados numa certa revelia contra o sistema partidário, reside no facto de quanto mais se aproximar do poder mais riscos correr de esvaziar o seu suporte eleitoral. Afinal, não há soluções milagrosas e não é possível ter o melhor de dois mundos.

terça-feira, março 01, 2005

Chama-se ideologia

Na perspectiva da ala esquerda socialista, a renovação da maioria absoluta passa por governar à esquerda e, assim, segurar o eleitorado de esquerda que, de outro modo, votará no BE e no PCP. Esta abordagem -- que, curiosamente, se preocupa tanto com o eleitorado de esquerda -- revela, ironicamente, um desprezo incompreensível pelos swing voters ao centro.
Confesso que me escapa a racionalidade desta proposta.

Não vou

Os U2 editaram algumas das minhas músicas preferidas. São uma presença muito frequente no leitor de CD’s do carro e uma óptima companhia para viagens. Perder o anterior concerto em Alvalade foi uma frustração e, desde esse dia, sempre pensei que não poderia perder o próximo. No entanto, neste momento é já uma certeza, também vou perder este concerto. Em primeiro lugar, porque consigo lembrar-me de muitas outras utilizações mais proveitosas para dar à pequena fortuna que custam os bilhetes. Em segundo lugar, e muito mais importante, porque passar horas numa fila para obter o ingresso raia o absurdo. Far-me-ia sentir como participante numa farsa moderna, profundamente vexatória. Ainda mais do que isso, porque perpassa por toda a (en)cena(ção) uma desconsideração pela dignidade da pessoa com a qual não pretendo ter nada a ver. Prefiro ficar-me pelos CD’s. Pelo menos esses não constituem rituais de humilhação.